Dois nomes fundamentais na arte do século 20 ganham no Brasil exposições à altura de sua importância. Vemos o mundo de um jeito diferente graças a Matisse e Chagall.
Revolucionários do Olhar
Dois nomes fundamentais na arte do século 20 ganham no Brasil exposições à altura de sua importância. Vemos o mundo de um jeito diferente graças a Matisse e Chagall
Por Gisele Kato
Quem não se lembra das filas enormes em frente ao prédio da Pinacoteca do Estado de São Paulo em junho de 1995? Na época, 183 mil pessoas foram ao museu atrás dos bronzes de Auguste Rodin. O recorde de visitantes, até então inédito para uma exposição no país, entrou para a história das instituições culturais como uma espécie de marco. Rodin provou aos museus que aqui havia um público interessado em arte e assim inaugurou a era das grandes mostras internacionais no país. Ajudados pelas leis de incentivo, os museus trataram de se preparar para eventos desse porte. E hoje pode-se dizer que o Brasil não só está inserido em um circuito de prestígio como também exporta iniciativas. A programação que começa neste mês e vai circular por diferentes cidades reforça nosso lugar no mapa das exposições importantes que rodam o mundo. Em Belo Horizonte, a Casa Fiat de Cultura apresenta O Mundo Mágico de Marc Chagall (o mesmo museu traz, também, uma retrospectiva de Rodin — mais modesta, porém, do que a que esteve no Brasil em 1995). Em outubro, a mostra de Chagall aporta no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Já a Pinacoteca do Estado de São Paulo aposta todas as fichas em Matisse Hoje, a partir de setembro.
As duas exposições foram produzidas especialmente para o Brasil. Com cerca de 300 obras, incluindo séries completas de gravuras fundamentais para a trajetória do pintor russo, a mostra de Chagall, com curadoria de Fábio Magalhães, é a maior exibição dedicada ao artista desde a sala especial na Bienal Internacional de São Paulo, em 1957. Com peças de diferentes coleções, tanto públicas como privadas, a individual resulta de um esforço de negociação só possível agora que o Brasil já construiu uma tradição de grandes mostras. Temos hoje credibilidade junto aos mais importantes museus do mundo, ingrediente essencial na lista de negociações necessárias para chegar a números superlativos como esses.
No Ano da França no Brasil, a exposição de Matisse, um desejo do diretor Marcelo Araújo desde que assumiu a Pinacoteca, já se abre ao público com um status imbatível: trata-se da primeira individual do artista francês no país. Impõe-se, portanto, como a chance de corrigir uma das faltas mais graves no repertório cultural dos brasileiros. Matisse está entre os nomes mais revolucionários da história da arte, e seu legado influencia a produção artística mundial até hoje. Com 80 obras, provenientes de acervos de museus internacionais e colecionadores dos mais respeitados, a exposição também resulta de acordos rigorosos, em uma sequência de combinações que se aproxima de uma verdadeira ação diplomática. Atesta, ainda, a confiança de que o Brasil dispõe atualmente no segmento, já que vem assinada por uma curadora francesa: Emilie Ovaere, ligada ao Museu Matisse, de Le Cateau-Cambrésis. A expectativa de público para a mostra é tão alta que a entrada da Pinacoteca será reformada para melhor acolher as pessoas.
Até o dia dos vernissages propriamente ditos, exposições dessa dimensão exigem esforços que talvez passem despercebidos depois de montadas (veja quadro na pág. anterior). Curadores e produtores precisam negociar com os donos das peças emprestadas desde seu transporte até o seguro contra acidentes e roubo. "Mas esses trâmites são muito mais fáceis hoje do que eram na década de 1980, por exemplo. Hoje temos um corpo técnico muito capacitado e instituições reconhecidas. Fazer mostras assim regularmente facilita ainda a concretização de iniciativas futuras", diz Maria Eugênia Saturni, da produtora Base7 Projetos Culturais, responsável pelas exibições de Chagall e Rodin em Belo Horizonte.
Por detalhes dessa ordem, além do peso dos artistas em questão, claro, dá para dizer com toda a certeza que se inicia neste mês uma temporada de ouro para as artes plásticas no Brasil. Matisse, ao lado de nomes como Pablo Picasso e Marcel Duchamp, sacudiu o universo criativo de forma definitiva. Artistas contemporâneos a ele e as gerações seguintes, de uma forma ou de outra, olharam para o que ele fez. Muitos são seguidores confessos até mesmo atualmente, em pleno século 21. Já Chagall não teve herdeiros — o que não significa, de forma alguma, que seu peso seja menor na história da arte. Ele construiu uma obra tão original e ao mesmo tempo tão antenada com as vanguardas modernas que, aos que vieram depois dele, restou apenas admirar um gênio totalmente sui generis. Em comum, eles dividem uma boa parte da responsabilidade pela percepção que temos hoje — da arte e do mundo.
Fonte: revista bravo
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