É mentira! Vivemos em uma grande e infindável mentira. Olhe a sua volta, tudo é envolto em máscaras das desilusões infinitas. Todo mundo mente e todo o resto tem ciência disso. Mentimos para os outros e muito mais para nós mesmos. Aceitamo-las como absolutas e inquebrantáveis
É mentira! Vivemos em uma grande e infindável mentira. Olhe a
sua volta, tudo é envolto em máscaras das desilusões infinitas. Todo
mundo mente e todo o resto tem ciência disso. Mentimos para os outros e
muito mais para nós mesmos. Aceitamo-las como absolutas e
inquebrantáveis verdades. Verdade? Não, não, tudo menos isso, pelo amor
de Deus, faço o que quiser, mas não me venha com verdades. A mentira é
conveniente, a mentira é institucionalizada e… desejada por todos nós!
O tema desse artigo surgiu há cerca de uma semana quando analisando o meu cotidiano, olhei em volta e…
Na televisão mostra e se fala aquilo que não se cumpre ou
inexiste. Políticos esbravejam o asco de inverdades que parecem ser
congênitas. Telejornais distorcem em tênues graus frescas notícias de
acordo com a conveniência de suas corporações. Filmes e novelas encenam o
que jamais aconteceria na vida “real” (eu sei que em parte é a função
deles, mas há tanta gente que acredita fielmente naquilo). É o ator que
pela manhã está em passeata contra as drogas e à noite, na balada,
cheirando cocaína; o corredor que chora no pódio pela sua medalha de
ouro e derrama as mesmas e ardidas lágrimas no dia seguinte por ter sido
descoberto dopado; o apresentador que faz juras de amor à esposa
enquanto todo o planeta e, o que é pior, até o próprio cônjuge, sabe que
ele tem uma amante, ou várias.
Mente aquele que diz que nunca mentiu!*
Nas livrarias lê-se a mentira travestida de seriedade.
Opúsculos tendenciosos, livretos de como manter os cabelos, assinado por
um autor careca, periódicos que nos mostram corpos manipulados pela
tecnologia, levando mulheres à loucura por sonhar com algo que só é
possível nas penumbras de salas dos computadores. Revistas que cospem a felicidade de famosos, mas que não retratam a realidade nem de lá, nem de cá, intelectuais de botequim, “obras” que não dizem nada…
Nas ruas só se escutam reclamações, fofocas, insatisfações e críticas
por parte dos transeuntes o que, sempre me dá a impressão que não há
ninguém jamais satisfeito ou feliz, ou seja, em outras palavras,
mentiras e mais mentiras. Foram raríssimos os momentos nos quais escutei
algo de interessante, construtivo ou verdadeiro…
Nas academias onde ministro aulas, depara-se constantemente com a
patética tentativa de se parecer com aquilo que não se é, com corpos
pulsando em músculos gerados pela química da insegurança, profissionais
das mais diversas disciplinas utilizando hipocritamente o adágio de que
faça o que digo, mas não faça o que faço, com o descomunal desespero de
fugir do envelhecimento natural do corpo físico…
Enganar a si próprio é como apagar incêndio com querosene, só aumenta o estrago*.
Acordamos e mentimos que hoje será diferente do que ontem, mas… como
poderia ser se as ações continuam as mesmas do dia anterior? Nos
alimentamos com pressa, presumindo que um dia, ela, a pressa, vai
desaparecer sem nenhuma iniciativa mutante de nossa parte. Chegamos ao
trabalho e mentimos descaradamente ao abraçar sorridentes pessoas das
quais não gostamos; estipulamos prazos que sabemos que não iremos
cumprir; gritamos internamente que este será o último ano na empresa,
pois merecemos ser valorizados e não foi pra isso que fizemos aquela
faculdade, que diga-se de passagem, nem queríamos cursar mesmo; fingimos
gostar da promoção do companheiro.
Em seguida, saímos para almoçar com colegas de trabalho que nem mesmo
conhecemos e nem fazemos questão de que isso aconteça, sentamos à mesa
já dizendo: ai meu regime, mas amanhã eu juro que começo pois não posso
deixar passar esse prato, afinal ninguém é de ferro e sem radicalismo
né? Terminamos o expediente e vamos ao nosso lazer: cursos, esportes,
Yôga… e lá “enrolamos”, encontramos velhos conhecidos que convidamos
para um jantar que ambos sabem que nunca irá acontecer, chegamos em casa
e mentimos a pessoa amada ou vamos para festas nas quais fazemos de
tudo e mais um pouco para mentir, seja através de álcool, drogas
ilegalizadas ou qualquer outra coisa que esconda a verdadeira realidade
por trás dos fatos.
Por isso que é “fácil” compreender quando médicos especializados em
alimentação e nutrição “babam” aos quatro ventos que é impossível o
corpo humano viver saudavelmente sem a ingestão de carnes. Afinal,
aprendemos a mentir desde a gestação, é só mais uma mentirazinha inócua.
No entanto, nada pode ser considerado assim, pois como todos sabemos,
qualquer minúscula ação, por mais inocente e sem sentido que possa
parecer, terá sua reação correspondente.
Mentirinhas alimentares: olhamos para o outro lado quando alguém nos
diz que aquele pedaço de bife no prato sentiu muita dor ao ser
aniquilado. A falácia das imagens de bichanos felizes nas embalagens de
carnes de porco, boi, frango e peixe. “O puxar a sardinha”, com perdão
do trocadilho, na publicação de científicas pesquisas sobre a
inviabilidade do vegetarianismo. As falsas justificativas de quem se
alimenta dos músculos de outro animal. A modinha estabelecida pela mídia
das celebridades de somente comer carne branca. O esbravejar não
sincero de que um dia pararemos de comer bichos.
Pode ser que como no filme o Mentiroso com Jim Carrey, no qual ele
recebe uma maldição de ter que somente falar a verdade, o mundo a
princípio, entraria em um pequeno colapso, sobretudo no que concerne aos
relacionamentos com outras pessoas, mas talvez, com o tempo
descobríssemos que isso tudo a nossa volta é uma grande mentira, que a
vida é a maior delas e quem sabe neste instante perceberíamos que não
precisaríamos mais mentir.
Por Fábio Euksuzian
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